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Casa do Rio Vermelho: O Museu que Mantém a História de Jorge Amado e Zélia Gattai Viva

Escritor baiano completaria 111 anos hoje (10).

A residência que outrora abrigou a vida de Jorge Amado e Zélia Gattai, conhecida afetuosamente como Casa do Rio Vermelho, tem sido um ímã para visitantes muito antes de se tornar um museu. Localizada no número 33 da Rua Alagoinhas, em Salvador, o local não apenas atraiu turistas de todos os cantos, mas também recebeu desde desconhecidos até ilustres personalidades mundiais. O museu-casa, inaugurado em 2014, mantém vivas as memórias dos anos em que a família habitou o espaço, proporcionando uma oportunidade íntima para os admiradores do escritor baiano, que completaria 111 anos nesta quinta-feira (10).

Casa de Jorge Amado
(Foto: Paula Fróes / Correio)

A atmosfera da Casa do Rio Vermelho permanece quase intocada desde sua transformação em museu. As árvores plantadas por Jorge e Zélia na década de 60 cresceram, parte do vasto acervo de 100 mil páginas de cartas agora é exposta e a piscina que já recebeu é desprovida de água. Mesmo assim, ao adentrar o museu, os visitantes têm a sensação de que os donos da casa podem a qualquer momento surgir em algum cômodo. Os móveis antigos permaneceram e a máquina de escrever de Jorge posicionada sobre a mesa da sala ainda examina a presença dos moradores antigos.

Essa preservação meticulosa não é fruto do acaso. Quando Zélia Gattai, já viúva, consentiu que a casa se tornasse um museu, estipulou um pedido que foi honrado meticulosamente por sua neta, Maria João Amado. “Ela queria que a casa continuasse sendo uma casa, sofrendo o mínimo de interferência possível”, recorda Maria. Maria, identificando-se como a primeira funcionária do museu, foi a responsável por iniciar a catalogação das peças, cujo número chega a três mil. Só no ano passado, a Casa do Rio Vermelho acolheu 37.864 visitantes de mais de 80 países distintos.

Enquanto a diversidade geográfica é notável, a maior parte dos visitantes vem da Bahia, alimentando um interesse genuíno em conhecer mais sobre a história do casal. No último mês, cerca de sete mil pessoas passaram pelo museu. “Como neta, vejo o museu como uma maneira de retribuir o carinho sempre recebido pelo povo. E, como gestora, acredito que seja uma maneira das pessoas desfrutarem de uma diversão cultural de qualidade”, afirma Maria João. Apesar disso, ela não pôde confirmar o número total de visitantes desde a inauguração.

(Foto: Paula Fróes / Correio)

O museu apresenta projeções de vídeos narrando a história da Casa do Rio Vermelho e do casal, intercalando-se com o acervo que oferece aos visitantes uma visão do cotidiano dos escritores. Uma coleção de objetos da cultura popular brasileira, incluindo muitos sapos (animal favorito de Jorge), se mescla com obras de artistas famosos. Ao observar atentamente os detalhes da casa, fica claro que a residência é, na realidade, um mosaico de afetos.

Logo na entrada da casa, uma escultura de Exu, feita pelo ferreiro Manu e instalada no jardim em 1966, observa quem entra e sai. Essa escultura foi a primeira a habitar a casa número 33. Essa passagem revela muito sobre a relação de Jorge Amado com a religiosidade, uma vez que o autor foi conselheiro (Obá de Xangô) no terreiro de Mãe Stella de Oxóssi. Esse sincretismo religioso é uma presença constante em muitas de suas obras.

(Foto: Paula Fróes / Correio)

Os encontros com amigos como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Glauber Rocha e Tom Jobim serviram de inspiração para reformas na casa. A cozinha teve que ser expandida, para a qual a casa ao lado foi adquirida. A capacidade foi em um quarto de hóspedes adicional. O closet também cresceu quando Paloma, filha do casal, se casou e deixou a residência. Os guarda-roupas coloridos de Jorge Amado, um símbolo do escritor, dividem espaço com as cartas trocadas durante décadas. Correspondências de figuras notáveis ​​como Monteiro Lobato, Oscar Niemeyer e Carlos Drummond de Andrade também compõem o acervo.

Em comemoração ao aniversário de Jorge Amado, o escritor baiano Itamar Vieira Júnior, autor do best-seller “Torto Arado”, participou de um bate-papo na Casa do Rio Vermelho. O evento aconteceu às 17 horas do dia 10 e atraiu muitos fãs do autor. Além disso, o museu oferece visitas mediadas para quem deseja desvendar os segredos da vida de Jorge e Zélia. A Casa do Rio Vermelho, que funciona de terça a domingo, das 10h às 18h, é um convite para todos aqueles que desejam se imergir na rica história e no legado cultural desses ícones literários brasileiros.

Vitor Pavanelli

Jornalista e entusiasta de cultura pop, cinema e política. contatovitorpavanelli@outlook.com.

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